Baseado na palestra de Maurício De Bortoli realizada em 11 de dezembro de 2025 no II Workshop Front – Kultive Experience.
No universo do agronegócio, muito se fala em resiliência — a capacidade de suportar impactos. No entanto, durante o II Workshop Front, o palestrante Maurício De Bortoli elevou o debate ao introduzir o conceito de agricultura antifrágil.
Baseado em sua experiência à frente de uma empresa familiar que saltou de 20 para quase 11 mil hectares em Cruz Alta (RS), Maurício De Bortoli defende que o sistema ideal não é apenas aquele que resiste aos desafios, mas aquele que se beneficia deles, reagindo com estratégias para prosperar em ambientes hostis.
Foco em processos, não em produtos
Uma das premissas centrais da palestra é a mudança de mentalidade: a alta produtividade não é fruto de um “produto milagroso”, mas de processos bem executados. Enquanto produtos servem para mitigar perdas, são os processos que constroem o potencial produtivo.
Segundo dados do SESB citados pelo palestrante, ainda que o clima responda por 50% do sucesso, o produtor tem controle sobre pilares cruciais: 23% sobre o solo, 13% sobre a genética e 14% sobre o manejo.
A filosofia de Maurício é pautada pelo legado. Ele reforça a responsabilidade de deixar a terra melhor do que a encontramos, vivendo sob a máxima: “Não herdamos a terra de nossos pais, nós a tomamos emprestada dos nossos filhos”.
Fertilidade como base do “solo vivo”
Para Maurício, a construção da fertilidade começa com a calagem, que ele denomina “irrigação branca”. Ele alerta que a frequência da aplicação é mais vital do que uma dose única maciça, destacando que o pH abaixo do ideal pode causar perdas severas (cerca de 152 kg de soja por hectare para cada 0,1 unidade de pH abaixo de 5.7).
Quanto ao Fósforo e Potássio, o palestrante enfatiza a necessidade de distribuição em todo o perfil do solo para evitar o enraizamento superficial. Ele defende a adubação em linha, que promove o desenvolvimento radicular profundo, em detrimento da adubação a lanço, que concentra nutrientes na superfície. Para o potássio, a meta para altas produtividades deve ser atingir 5% de participação na CTC do solo.
O poder das plantas de cobertura e o sistema 3S
O Sistema de Plantio Direto consolidado vai muito além de plantar sobre palha; trata-se de um sistema biológico ativo. Maurício utiliza as plantas de cobertura como um “subsolador verde” (ex: nabo forrageiro), que descompacta o solo, introduz oxigênio e cicla nutrientes.
Um mix bem planejado pode ciclar o equivalente a R$ 1.200 a R$ 2.400 por hectare em nutrientes, reduzindo a dependência de fertilizantes minerais.
Para garantir que todo esse preparo se converta em grãos, De Bortoli apresentou o Sistema 3S:
- Semente: O vigor é lei. Cada 1% de ganho em vigor pode render 30 kg extras de soja por hectare.
- Semeador: O treinamento e engajamento do operador são determinantes para o sucesso do plantio.
- Semeadura: O ajuste perfeito das condições de plantio no dia, priorizando a qualidade sobre a velocidade.
Mitigação de Perdas e Eficiência Operacional
A busca pela alta performance exige atenção aos detalhes. O palestrante demonstrou que o amassamento pelo tráfego de máquinas gera perdas de 2,5 a 4,1 sacos por hectare. Sua estratégia inclui o uso de aviação agrícola para aplicações tardias após o fechamento das entrelinhas, garantindo ganhos diretos.
A validação desse modelo veio através do concurso SESB, onde sua propriedade alcançou marcas de até 119 sacos de soja por hectare com um ROI de até 3,1. Esses números provam que, com solo equilibrado, biologia ativa e processos rigorosos, a alta produtividade é um resultado replicável e sustentável.
